segunda-feira, 20 de maio de 2013

Artigo de Valério Mesquita

Jovens são executados nas ruas!

“A morte é hedionda e a vida também”. Nesta frase de Marguerite de Yourcenar em “Memórias de Adriano”, perpasso o drama que vive Macaíba, minha terra, onde a juventude sem rumo da periferia está sendo dizimada pela droga. Toda semana, tomba no asfalto como carcaça de animal no abatedouro um adolescente. Como cidadão macaibense, seu filho e seu representante pro tempore, quer queira ou não, toma conta de mim o sentimento da dor de pai. Os bairros da cidade: Campo da Mangueira, Alto do Vilar, Araçá, Alto da Raiz, Rua do Fio, Ferreiro Torto e outros tantos ferrados pelo cartel, a tragédia virou rotina e impunidade.

Na Praça da Saudade, em frente ao cemitério público, ocorreu um tiroteio, dias passados, digno das favelas do Rio de Janeiro. A vítima, como de costume, um rapaz. Soube, quando lá estive no domingo, Dia das Mães, que a praça que era do povo, das famílias, hoje, pertence aos traficantes. Ela dista da delegacia de polícia, apenas, uns trezentos metros em linha reta. Se um frequentador soltar um flato o delegado escuta. E aí, por que a polícia de Macaíba, que detém uma terceira companhia, igualmente tão próxima, não toma providências? A delegacia só faz recolher cadáveres e digitar boletins de ocorrências! Nenhuma prisão é efetuada. A população indefesa não vê interesse e empenho das autoridades no sentido de enfrentar o problema. Pesa nas pálpebras da segurança pública de Macaíba o grude da indiferença.

Vejo a terra das minhas raízes pavorosamente perdida. A cidade – coronel Araújo, digno comandante da Polícia Militar – está triste. Além de haver perdido muito de sua alma, ela e seus habitantes, são meros e casuais transeuntes inúteis, sem proteção e sem guarida. Quando revejo Macaíba, coronel, a mim não revejo mais, tal a promiscuidade e o abandono a que foi relegada. No momento em que os senhores reagrupam praças que serviam em diversas instituições públicas, lembre-se que a situação da área metropolitana é desesperadora.

O tráfico está migrando de Natal para as suas cercanias. A droga está no quintal, à sombra das bananeiras, debaixo dos coqueirais. Naquela manhã de sol de domingo, na calçada tingida de sangue da Praça da Saudade, contemplei o busto de bronze do meu ancestral, chantado ali com o apoio dos amigos liderados pelo ex-governador Cortez Pereira em 1974. O céu azul era o mesmo da minha infância. Pressenti uma pequena verdade que no céu deixou de refletir. Os costumes barbarizaram-se. O sangue dos meus conterrâneos está contaminado pelo vício da droga e pela mentira social da burocracia. É tempo, doutor Aldair da Rocha, ilustre secretário da Segurança, de curar os cortes desfechados na carne do tecido comunitário. Eles não são escória, mas estrutura, evolução, futuro, classe social, ordem, mão de obra e desenvolvimento.

O jovem tomba inerte em Macaíba porque o governo não o ampara e protege. Os que me entenderam, leiam e espalhem.

Um comentário:

  1. Valério, ainda sonho com tua volta ao cenário politico de Macaíba. Parabéns pelo cometário.

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