“A morte é hedionda e a vida também”. Nesta frase de
Marguerite de Yourcenar em “Memórias de Adriano”, perpasso o drama que vive
Macaíba, minha terra, onde a juventude sem rumo da periferia está sendo
dizimada pela droga. Toda semana, tomba no asfalto como carcaça de animal no
abatedouro um adolescente. Como cidadão macaibense, seu filho e seu
representante pro tempore, quer queira ou não, toma conta de mim o sentimento
da dor de pai. Os bairros da cidade: Campo da Mangueira, Alto do Vilar, Araçá,
Alto da Raiz, Rua do Fio, Ferreiro Torto e outros tantos ferrados pelo cartel,
a tragédia virou rotina e impunidade.
Na Praça da Saudade, em frente ao cemitério público, ocorreu
um tiroteio, dias passados, digno das favelas do Rio de Janeiro. A vítima, como
de costume, um rapaz. Soube, quando lá estive no domingo, Dia das Mães, que a
praça que era do povo, das famílias, hoje, pertence aos traficantes. Ela dista
da delegacia de polícia, apenas, uns trezentos metros em linha reta. Se um
frequentador soltar um flato o delegado escuta. E aí, por que a polícia de
Macaíba, que detém uma terceira companhia, igualmente tão próxima, não toma
providências? A delegacia só faz recolher cadáveres e digitar boletins de
ocorrências! Nenhuma prisão é efetuada. A população indefesa não vê interesse e
empenho das autoridades no sentido de enfrentar o problema. Pesa nas pálpebras
da segurança pública de Macaíba o grude da indiferença.
Vejo a terra das minhas raízes pavorosamente perdida. A
cidade – coronel Araújo, digno comandante da Polícia Militar – está triste.
Além de haver perdido muito de sua alma, ela e seus habitantes, são meros e
casuais transeuntes inúteis, sem proteção e sem guarida. Quando revejo Macaíba,
coronel, a mim não revejo mais, tal a promiscuidade e o abandono a que foi
relegada. No momento em que os senhores reagrupam praças que serviam em
diversas instituições públicas, lembre-se que a situação da área metropolitana
é desesperadora.
O tráfico está migrando de Natal para as suas cercanias. A
droga está no quintal, à sombra das bananeiras, debaixo dos coqueirais. Naquela
manhã de sol de domingo, na calçada tingida de sangue da Praça da Saudade,
contemplei o busto de bronze do meu ancestral, chantado ali com o apoio dos
amigos liderados pelo ex-governador Cortez Pereira em 1974. O céu azul era o
mesmo da minha infância. Pressenti uma pequena verdade que no céu deixou de
refletir. Os costumes barbarizaram-se. O sangue dos meus conterrâneos está
contaminado pelo vício da droga e pela mentira social da burocracia. É tempo,
doutor Aldair da Rocha, ilustre secretário da Segurança, de curar os cortes
desfechados na carne do tecido comunitário. Eles não são escória, mas
estrutura, evolução, futuro, classe social, ordem, mão de obra e
desenvolvimento.
Valério, ainda sonho com tua volta ao cenário politico de Macaíba. Parabéns pelo cometário.
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