Valério Mesquita*
A
notícia me chegou semelhante a estória do gato que subira no telhado. Em
seguida, a queda e, depois, a constatação visual da cerração de suas portas. O
tradicional bar “Gato Preto” das “Cinco Bocas” de Macaíba havia fechado. Woden,
Jansen, Nássaro Nasser e Osair Vasconcelos já sabem. O novo proprietário trocou
a felina fauna que misticamente embriagou e embalou os boêmios e notívagos por
mais de setenta anos pela faina diária de um sóbrio armarinho. "Cinco
Bocas" foi o território humano e sentimental de Macaíba, cuja embaixada
era o bar "Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da
"civilização". Foram quase cem anos de história viva, de pastores da
terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa. Chão
sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por
longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon,
Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel
Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo,
Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse
astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam
como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do
Cajueiro, Rua do Benjamim, Beco de Seu Alfredo, Beco do Mercado e Rua da Cruz.
Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e
mística de muitos obreiros que gastam saliva diariamente no pórtico de suas
entranhas, de suas calçadas.
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