sexta-feira, 3 de maio de 2013

Artigo do jornalista Sérgio Silva

A cidade de Macaíba que não quero mais

Caro leitor, a utopia de querer que aquela cidade fosse minha acabou. Nem que mandasse ladrilhar e me entregassem por inteira eu não queria nunca mais e relutaria para sempre. Aquela cidade que eu nasci e dei meus primeiros passos, fiz minhas primeiras e sinceras amizades, os primeiros romances, foi soterrada em algum lugar da galáxia. Ela não é, definitivamente, a Macaíba que foi minha.

Está cidade berço de tantos imortais da história, da cultura e política Papagerimum, choram copiosamente lá do céu pela situação estabelecida na terra do Solara Ferreiro Torto.

Caro leitor, quando eu ambicionava que esta cidade fosse minha realizava uma viagem em minha imaginação, que me levava até a zona rural deste município, nos torrões da comunidade rural de Capoeiras, local que tenho o orgulho de pertencer.

Por lá, caro leitor, a vida era simples, pacata, porém feliz. Naquele lugar, dezenas e dezenas de jovens adolescentes conviviam harmoniosamente, discussões, só sobre futebol. Quando a noite chegava todos nos reuníamos na sede do Bangú e a pauta era sempre a mesma: futebol e meninas. A madrugada raiava, mas como tudo era passivo não existia o perigo de retorno a casa. Hoje cada um seguiu seu rumo, mas é sempre gratificante quando nos reencontramos.

Caro leitor, é verdade, por lá existia ladrão e polícia. Uma turma fazia o policiamento a outra seria o desonesto, nessa brincadeira percorríamos toda comunidade e sempre a noite, no entanto, tudo acabava em sorrisos e retorno para o sono noturno nosso de cada dia.

Essa realidade da zona rural de Macaíba e condizente com “A CIDADE QUE NINGUÉM INVENTOU”, do nobre jornalista Osair Vasconcelos. Por esta cidade que um dia foi Macaíba, Osair conta que os jovens podiam andar por seus becos e vielas tranquilos, e quando chegava o anoitecer a Praça Augusto Severo e outras tantas eram repletos de enamorados casais, jovens, adolescentes, adultos com suas esposas e filhos, muitas vezes apreciando a lua cheia que surgia reluzente na margem do rio Jundiaí.

Tanto na zona rural como urbana, enquanto as crianças e adolescentes brincavam defronte de casa de bola, carrinho, bandeirinha, boneca, to – no – poço, os pais junto com vizinhos proseavam em suas cadeiras de balanço sobre, futebol, política e coisas banais.

Caro leitor, quando a garotada frequentava um baile, a disputa era saber quem conseguiria beijar uma garota, enquanto isso, nossos pais se esbaldavam no autêntico forró, tudo isso, regado a muita animação, respeito, e paz, independentemente das festas, até no carnaval o serenidade reinava.

E agora caro leitor, o que fizeram com esta cidade que um dia eu queria só para mim? O que fizeram de ti Macaíba?

Cadê os casais de enamorados observando a lua na mais singela troca de carinhos e afetos, as crianças brincando na rua, jogando bola, construindo casinhas de bonecas e seus pais conversando na varada de suas residências?

Caro leitor, e os jovens tanto do interior como da cidade, por que eles já não se reúnem mais para falar de suas paqueras e revoltas pelo não levado da garota amada? Onde está minha ex-Macaíba? essa atual eu não quero, eu reluto, me resigno, abandono.

Como é difícil hoje acorda e saber que esta Macaíba que foi minha, agora é só lembrança de um passado que não volta mais. Aquela cidade pacífica, simples virou literalmente pó com o passar do tempo, espumas que se esvai no vento.

Por que mudaram? Eu iria ladrilhar para sempre de paz e harmonia.
Caro leitor, atualmente as praças estão vazias, os românticos já não frequentam mais, além disso, já não existi crianças brincando na rua, as casas, todas, sem exceções viraram cárceres, e os senhores já não sentam na calçada. As festas já não são as mesmas e as disputas dos jovens não é mais por garotas.

Dizem que, a garotada nesta Macaíba de agora, que desconheço, disputam territórios, bocas! pontos, venda de uma substância chamada drogas. Eu não sei que bicho é esse, lá na minha Capoeiras de meu tempo, ninguém nunca ao menos ouviu falar, como também na Macaíba de antes. Porém, recebi a triste notícia de que lá por Capoeiras essa coisa também chegou.

E hoje caro leitor, essa cidade que surgiu é violenta, os jovens morrem repentinamente, ninguém tem liberdade, o povo vive um ostracismo social, cada um no seu quadrado. O medo, o desencanto toma conta, impera, a juventude deste local está morrendo cruelmente, e toda semana uma família sofre contundentemente a dor da despedida eterna de um ente seu.

E toda semana, caro leitor, é mais um que vai para o juízo final, tanto faz ser garotos ou garotas, jovens ou não, ninguém está livre nesta Macaíba contaminada de violência de ponta – a – ponta.

Tantos com chances de um futuro brilhante foram condenados por uma justiça paralela e fatal. As pessoas andam assustadas, o trabalhador, o estudante, o político e até os bêbados que foram vítimas letais. Na minha Macaíba eles só serviam para nos divertir.

É caro leitor, por mais que me contem eu não consigo acreditar que está cidade foi a Macaíba de antes, de um passado glorioso e de pessoa honrosas. Hoje é doloroso ver, toda semana o solo fértil deste lugar manchado de sangue humano. Deveria pintar sua bandeira de vermelho.

Estabeleceu-se a lei da selva, o salve-se quem puder. E assim, a Macaíba de hoje nem de longe é a Pisa na Fulô dos tempos áureos.

Eu queria que aquela cidade fosse minha. Já foi, não quero mais. Ela é um vazio gigante, um deserto, uma saudade sufocante que ao lembra – lá me sinto mal. Lastimável. A cidade de Macaíba que não quero mais. Caro leitor, teria como reconstruir aquela Macaíba registrada nas fotos empoeiradas existentes no meu álbum? Essa que está ai violenta eu não quero jamais.

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