terça-feira, 20 de novembro de 2012

Rossini Perez, um artista de renome internacional

Rossini Perez participou de mais
de onze bienais internacionais,
incluindo a de Veneza
Rômulo Estânrley,
repórter  Macaíba, RN

Considerado um verdadeiro mestre na arte da gravura, contemplando trabalhos nas técnicas da xilogravura, linóleo, serigrafia, gravura em metal e algumas litografias inéditas, o macaibense Rossini Perez, de 81 anos, que reside há várias décadas no Rio de Janeiro, esteve, de 1º a 11 deste mês, visitando o RN para fazer um estudo in loco das salas de exposição da Pinacoteca do Estado, a convite da Secretaria Extraordinária de Cultura e da Fundação José Augusto (Secultrn/FJA), para sua exposição que será realizada no primeiro semestre de 2013. Traços, cores, texturas impressionantes e predominantemente abstratas, suas obras correm o mundo e são destaque no cenário internacional.

Na quarta-feira, dia 7, ele esteve na casa do historiador Anderson Tavares, para apreciar seu acervo fotográfico. Foi lá que conversamos sobre sua infância em Macaíba.

Filho caçula do espanhol Jaime Quintas Perez (1892-1951) e da mipibuense Joana Geraldo Freire (1896-1961), Rossini nasceu em Macaíba, no dia 15 de setembro de 1931, mais especificamente no casarão da Rua Heráclito Vilar (hoje, pertencente à família do saudoso Raimundo Cortez). Além dele, o casal teve mais três filhos: Rutênio (in memoriam*), Renard e Veleda (*).

DA GALIZA PARA MACAÍBA

Jaime Quintas Perez era natural de Porqueirós, província de Ourense, Galiza, pátria de um grupo étnico ou nacional denominado “galego”, que sofreu grande emigração de mão-de-obra para o resto da Espanha. Dominada pela agricultura e vilas rurais, seu setor agrícola continua a ser um dos mais atrasados do país. A emigração galega foi notável para outras partes da Espanha, Portugal, Europa e América do Sul, no período de 1900 a 1981.

Jaime Perez viera para o Brasil, em 1898, no intuito de prosperar financeiramente, além de fugir do serviço militar, segundo revelou Rossini Perez. No RN, graças à sua boa articulação, foi contratado para calçar as ruas de Natal. Tornou-se amigo do prefeito de Natal, Omar O’Grady (1894-1985), que administrou a capital de 1924 a 1930. Estabelecido em Macaíba, provavelmente em 1920, ano do seu casamento com Joana Freire, tornou-se comerciante, dono de duas lojas de tecidos, em sociedade com Aguinaldo Ferreira da Silva (1913-2004, pai do advogado Janssen Leiros) e Estevão Alves.

CEARÁ

Após a Revolução de 30, como parte do processo, foi decretada a destituição de todos os prefeitos e intendentes do RN. Com o fim do mandato de Omar O'Grady, este, que era engenheiro civil, direcionou suas atenções para Fortaleza/CE e convidou Jaime Quintas Perez para ser seu construtor.

Com apenas 2 anos de idade, Rossini e sua família se mudaram para solo cearense, em 1934, ficando por um período de dez anos. Rossini recorda que, ainda em Macaíba, contraiu tuberculose e em Fortaleza seu estado de saúde se agravara. Por conta disso, teve que se submeter a tratamentos intensos.

Por ter uma infância reclusa, devido à sua “doença do peito”, o futuro artista teve acesso a várias revistas com ilustrações de mestres da pintura espanhola, como Goya, Diego Velázquez, Pablo Picasso, entre outros. “Esse foi o início da minha formação visual”, disse. “Eu, que era doentinho, ficava em casa fazendo garatuchas”, mencionou, acrescentando que seu pai via aquilo com um olhar de reprovação, talvez por entender que uma possível carreira artística não fosse viável no futuro, do ponto de vista econômico.

Rossini fez seus estudos primários na Bahia, Recife e Rio de Janeiro. Aprendeu com aulas particulares em casa, pois sua doença não permitia que freqüentasse estabelecimentos escolares.

Jaime Quintas Perez não conseguiu estudar para ser engenheiro civil, a profissão dos seus sonhos, e desejava que seu primogênito Rutênio se qualificasse na área. Então, em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro para viabilizar os estudos do filho.

Nisso, o pequeno Rossini, com 12 anos, conheceu o dentista macaibense Orlando Ubirajara, que se encontrava em terras cariocas naquele período. Com sensibilidade artística, ele era um “pintor de domingo” e se tornou o orientador de Rossini. “Ele anestesiava os clientes tocando violino”, disse.

No Rio, Rossini cursou o ginasial e o científico, no período de 1947 a 1953. Foi lá também que ele conheceu José Jorge Maciel (1914-1995), que na ocasião era estudante de Medicina e o encaminhou para tratamento de saúde.

FORMAÇÃO ARTÍSTICA

Sua formação artística começou na década de 1950, em cursos livres de pintura, desenho e gravura com nomes consagrados, entre eles Luiz Almeida Júnior. Foi na Cidade Maravilhosa que Perez teve seu trabalho consagrado e conquistou notoriedade artística.

Em 1951, freqüentou a Associação Brasileira de Desenho e teve aulas com o pintor Ado Malagoli (1906-1994). Em visita à 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953, o macaibense impressionou-se com as gravuras de Edvard Munch (1863-1944) e decidiu se dedicar a essa técnica. No RJ, estudou na Escolinha de Arte do Brasil e foi orientado por Oswaldo Goeldi (1895-1961). Por volta de 1952, se tornou aluno de Iberê Camargo (1914-1994) e, em 1953, de Fayga Ostrower (1920-2001). No mesmo ano, participou da 1º Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis.

Na década de 1950, suas obras tratam de temas como os barcos, os morros e as favelas cariocas. Em 1958, a Sociedade Os Amigos da Gravura realizou a primeira grande tiragem de sua obra “Morro”. A partir daí, a carreira de Rossini começou a deslanchar, chegando inclusive a ganhar o público e crítica internacional.

Em 1959, se tornou assistente de Johnny Friedlaender (1912-1992), no Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), no qual lecionou até 1961. Rossini Perez se aperfeiçoou em litografia na Rijksakademie, em Amsterdã, como bolsista, em 1962. Nesse mesmo período, passou a residir em Paris, de 1962 a 1972. Lá, colaborou na implantação de uma oficina de gravura em metal, na Ecole Nationale des Beaux-Arts (Escola Nacional de Belas Artes), em Dacar (Senegal), entre 1974 e 1975, e deu aulas nessa instituição em 1977 e 1978.

De volta ao Brasil, foi professor no Centro de Criatividade, da Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, em 1978, e no Ateliê de Gravura do MAM/RJ, de 1983 a 1986.

Como fotógrafo, Perez documentou as transformações da cidade do Rio de Janeiro resultantes de intervenções urbanas, como as obras para a construção do metrô. Registrou estatuária e detalhes da arquitetura carioca em muitas edificações mais tarde demolidas. Sua obra é composta por cerca de 7,5 mil imagens.

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