quinta-feira, 22 de novembro de 2012

João Pedro: um nome que marcou época na indústria gráfica do RN

João Pedro era conhecido pelos
colegas da Rua Mário Negócio
pelo apelido de “Vizinho”
Rômulo Estânrley,
repórter – Macaíba, RN

Mesmo tendo exercido várias profissões ao longo dos seus 77 anos, foi no ramo de impressão gráfica que João Pedro da Silva se identificou. Mas sua vida foi marcada por muito trabalho desde a infância. E uma decisão que tomou, ao desfazer de sua tipografia, acarretou numa dura lição de vida para que ele finalmente encontrasse sua tão almejada satisfação pessoal. “Foi o erro da minha vida. Se eu não tivesse vendido estaria por cima da carne seca”, acredita o ex-gráfico. “Quando a pessoa tem bens e vive bem de vida, é conhecido de todos. Quando não tem, ninguém conhece”, externou.

Aposentado há 18 anos, hoje ele desfruta de uma vida tranqüila, como comerciante e dono de casas de aluguel. João Pedro nasceu no dia 11 de setembro de 1935, no município de Nova Cruz/RN. É o quarto filho do casal Pedro Lourenço da Silva e Maria Alves da Silva. São seus irmãos: Luiz (in memoriam*), Carlinda (*), Manoel (*), João (*), Maria Madalena (*), padre José Pedro, Luciano (*) e Ana.

Cursou apenas o primário, na Escola Municipal Getúlio Vargas, no bairro Alto São Sebastião. “Eu lutei muito para sair da cartilha do ABC e não saí”, disse, “porque queria muito bem a professora Alice Soares. Não teve jeito”, brincou. “Já matemática, eu era bom”. O pouco domínio na escrita só veio tempos depois.

“Seu” Pedro Lourenço, como muitos pais de família do interior do RN, era agricultor e para complementar a renda familiar, não via outra saída a não ser deixar que os filhos trabalhassem logo cedo. Então, o menino João Pedro praticamente não viveu sua infância, pois teve que começar a trabalhar aos 10 anos de idade, como ajudante do sapateiro Zé Cané, já falecido. Mas, sempre que podia, brincava com os amigos. “Eu gostava de brincar de vaqueiro, pois não queria ser o boi. E de polícia e ladrão, queria ser o policial, que era pra meter o couro pra cima!”.

Aos 14 anos, já era profissional. Trabalhou em diversas sapatarias, entre elas as de Dema Stack, Raimundo Birro, Sebastião Malaquias e outros. Mas uma crise o levaria para terras cariocas, em 1953. A profissão de sapateiro estava em baixa e João Pedro não conseguia se inscrever na emergência, por ser considerado “rico”. “E eu passando fome...”, contou, sorrindo. Ele vendeu uns carneiros e viajou num pau de arara, meio de transporte irregular, que substituía os ônibus convencionais. “Cheguei lá com os joelhos ralados nas tábuas. Pau de arara daqui para o Rio não é fácil", lamentou.

O entrevistado relembra que chegou numa terça-feira e começou a trabalhar de sapateiro já no dia seguinte. O emprego durou oito meses. Após isso, retornou para o RN para exercer novamente seu ofício, nas feiras de Santo Antônio do Salto da Onça, Montanhas, Canguaretama, Goianinha, Várzea, Jacaraú/PB e outros. “O que pensar numa feira eu vendi – de frutas a mangalhos”, falou, acrescentando que aproveitava o momento propício para negociar com mercadorias diversas. No mês de junho, por exemplo, negociava com fogos de artifícios.

Em 22 de dezembro de 1962, casou com Cícera Eudócia da Silva, com quem teve os filhos José Pedro Sobrinho, Carlos Alberto, Carlinda (*), Maria Aparecida, Canindé, Edivaldo, Ana Cristina, João Júnior, Sebastião (Tião) e Josué (*). A família cresceu e hoje o casal já conta com dezessete netos.

No final da década de 1960, foi morar em Canguaretama, para se tornar um ambulante, vendendo nas portas das casas. “Eu trabalhava vendendo bagulho num balaio – sandálias, miudezas – feito um galão de carregar água. Ia a pé, de Canguaretama para Pipa e de Pipa para Goianinha. Fazia Cibaúma, Pipa, Tibau, Goianinha”, mencionou.

No ano de 1972, se mudou para Macaíba, mais precisamente na Rua General Aluísio Moura (ou “35”), onde mora até hoje. Foi na ocasião em que seu irmão – padre José Pedro – assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Conceição. João Pedro resolveu ganhar dinheiro como pedreiro, sem nunca ter exercido a profissão, de 1972 a 1975. “Não tinha outro trabalho pra mim. Foi a necessidade que me ensinou”, disse.

No ano seguinte, vendeu sua casa em Nova Cruz para poder comprar à paróquia o terreno onde morava, por 11 mil cruzeiros. E assim, saiu do aluguel.

GRÁFICA

João Pedro finalmente encontrou a profissão de sua vida quando ingressou no ramo gráfico, em 1976, “sem nunca ter passado na porta de uma”. Os equipamentos foram adquiridos do bispo Dom Nivaldo Monte. Surgia a Tipografia Nossa Senhora Aparecida, instalada nos fundos da Igreja Matriz. O nome foi colocado em alusão à padroeira do Brasil, que João Pedro achava bonito.

Em 1977, se mudou para Natal, juntamente com seu irmão Zé Pedro, que largara a batina para se casar. Na capital, se instalou na Rua Mário Negócio, num prédio alugado. Com o sucesso da empreitada, adquiriu um prédio próprio no mesmo logradouro, n.º 1816. Na tipografia, confeccionava talões de notas fiscais, convites de casamentos, envelopes timbrados, etc. Curiosamente, João Pedro não sabia escrever, mas não deixava que nenhum funcionário ou cliente percebesse a deficiência. “Os serviços eu conferia letra por letra. Eu só confiava na minha revisão”.

O negócio durou até 1990, quando “deu a louca na cabeça” de João Pedro, que vendera todo o equipamento para uma pessoa de Nova Cruz e investiu o dinheiro no comércio da sua terra natal: o Supermercado Eldorado, na Rua José da Penha. “Mas não tive perseverança e o negócio só durou quatro meses”, relata, informando que vendeu toda a mercadoria de forma “retalhada”.

Em seguida, tentou recuperar sua gráfica, mas os equipamentos já se encontravam em Recife/PE, com os valores quadruplicados. Abatido, João Pedro ficou se sustentando com dinheiro da venda do supermercado. “Mas não quebrei, não. Encostei no meu capital, pois quando comecei eu não tinha nada”, citou.

Antes da venda da tipografia, o ex-sapateiro ainda tentou outro ramo, ao abrir a Churrascaria Folgagi, em 1989, mas que só durou quatro meses. “Acabei no auge, porque não me dei com a venda de bebidas”, justificou.

A próxima aposta de João Pedro foi investir em rinha de galo, no seu terreno. Após três torneios, resolver acabar, pois muitas pessoas se dirigiam ao local armadas, agredindo verbalmente os outros. “Numa rinha de galo é um perigo maior do mundo. Tem muita gente braba, com revólver na cintura”, diz.

Também direcionou suas atenções para o jogo de cartas, mas percebeu que não dava certo e abriu uma mercearia “cachá”, “para pensar que estou trabalhando”. O estabelecimento funciona no local da antiga Gráfica Maranata, dos seus filhos Zé Pedro e Beto, que seguiram o ofício do pai e que hoje se encontra em Parnamirim. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário