quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Antônio Mumbaça: uma vida entre o campo e a cidade

Passado de pai para filho, o apelido 
Mumbaça se deve a um município 
do estado do Ceará, terra natal 
do pai de Antônio de Souza
Rômulo Estânrley,
repórter – Macaíba, RN

O nome Antônio Alves de Souza talvez não represente nada no imaginário popular de Macaíba. Mas quando se fala em Antônio Mumbaça, aí todo mundo já associa a um simpático senhor de 84 anos, que é referência no cotidiano da cidade. Seu caso é como o de muitos macaibenses (ou “macaibeiros”) que são identificados por suas designações informais.

O apelido de Mumbaça (ou Mombaça) diz respeito a um município do estado do Ceará, lugar em que o pai do entrevistado, o fazendeiro José Paulo Alves de Souza, que era proveniente de uma família abastada, residia. A denominação daquele município passou a ser associada à figura do agropecuarista, quando este se fixou no Rio Grande do Norte, nas primeiras décadas do século XX. A partir daí, todos os seus descendentes também herdaram o apelido. Por sua vez, mumbaça é a designação de uma espécie de palmeira sul-americana, que chega a medir até 4 metros de altura.

Antônio Alves de Souza nasceu no dia 19 de fevereiro de 1928, numa fazenda localizada na comunidade de Várzea, em Macaíba. É o quarto filho do casal José Paulo Alves de Souza (falecido em 30 de agosto de 1972) e Filipina Simplício de Souza. São seus irmãos: Luiz (in memoriam*), Carmita, José, Raimundo (*), Geraldo, João Penha (advogado), Francisco (*), Assis, Francisco Arnaldo, Everaldo, Francisca Terceira (Tetê), Letícia, Maria das Dores, Ana Conceição (freira), Dalva e Daura.

Como em muitas biografias, a seca sempre se apresenta como um dos fatores que provoca o êxodo rural. Essa jornada do Ceará para o RN foi iniciada pelo avô materno de Antônio Mumbaça, Manoel Simplício de Araújo, antigo dono da Fazenda Peri-Peri.

Então, atraído como muitas das famílias dos estados vizinhos ao RN por prosperidade em terras cercada por rios, Paulo, o pai de Antônio Mumbaça, se instalou primeiramente em Natal, onde adquirira terras no bairro do Alecrim. Lá, construiu cerca de quarenta casas de aluguel que deram origem a duas ruas, entre elas a Presidente Sarmento – isso há mais de 100 anos. “Todos que moravam nessas casas diziam: ‘Moro nas casas de Mumbaça’”, contou a filha do entrevistado, Nieta.

Ele também doou um terreno – e quase construiu – o templo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Alecrim.

Depois, Paulo Mumbaça adquirira sua propriedade em Várzea, na Reta Tabajara, em Macaíba. A infância do filho Antônio Mumbaça foi vivida nesta fazenda. Cursou apenas o primário, no Grupo Escolar Auta de Souza. “Ele vinha a pé com seus irmãos estudar, do sítio até a cidade. Suas professoras foram dona Enedina Bezerra e Nazaré Madruga”, acrescenta Nieta.

Na adolescência, passou a se responsabilizar pelos afazeres da agricultura e pecuária nas outras fazendas do seu pai, na Reta Tabajara e Lagoa de Boi. Ao atingir a idade de 18 anos, serviu o Exército e quando saiu de lá voltou suas atenções para a vida no campo. “A vida dele sempre foi na agricultura”, enfatiza sua filha.

Antônio Mumbaça foi por quase toda a sua vida motorista de um caminhão de sua propriedade, em que entregava a produção de tijolos e telhas, da sua olaria; além da venda e distribuição de leite. Em algum tempo de sua vida, foi construtor, em que ele mesmo desenhava as plantas de suas casas.

Em 25 de março de 1954, casou com Maria de Lourdes Souza, sua prima, filha de Raimundo Francelino do Nascimento e Libelina Simplício do Nascimento, numa cerimônia celebrada pelo padreAntônio de Melo Chacon, em Peri-Peri.

Desta união amorosa, nasceram os filhos: Lurdinha, Nieta, Fátima, José Antônio e Cele. A família prosperou em sete netos – Lidiane, Darliane, Hudson, Aline, Márcio, Mariana e Mateus – e cinco bisnetos – Artur, Maria Clara, Letícia, Marcos Vinícius e Ana Beatriz.

Após o matrimônio, o casal foi morar na fazenda em Lagoa de Boi. Os dois residiram por lá durante três anos. Depois, se mudaram para o centro de Macaíba e, mais tarde, foram morar na capital por um período de cinco anos.

Antônio Mumbaça chegou a trabalhar por um curto período de motorista da antiga Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública, hoje Funasa – Fundação Nacional de Saúde), em Natal, no início dos anos de 1960. Mas, por não se identificar com o ofício, deixou o órgão federal após três anos.

Na década de 1970, a família retornou para Macaíba. Então, de 1972 a 1982, morou numa casa da Rua Nossa Senhora da Conceição (vizinho à Panificadora Brasil). Ao construir uma casa na Rua Dr. Francisco da Cruz, Antônio Mumbaça, sua esposa e filhos residem no lugar até hoje.

Embora desfrutassem suas férias em contato com o campo, nenhum dos filhos de Antônio quis dar prosseguimento à profissão do pai.

POLÍTICA

Antônio Mumbaça também gostava de se envolver em campanhas políticas, inclusive cedendo seu veículo para os candidatos que apoiava. Em 1992, foi candidato a vereador, provavelmente pelo PDS (Partido Democrático Social), apoiando a segunda candidatura de Odiléia Mércia Gomes da Costa à Prefeitura de Macaíba. Mumbaça não obteve êxito, embora tenha conquistado mais de 200 votos (uma votação alta para a época). Naquele ano, Odiléia concorreu contra a médica Dra. Cristina Urbano, que tinha como companheiro de chapa o médico José Simplício, primo de Antônio Mumbaça.

Com o tempo, as fazendas de Paulo Mumbaça foram vendidas e a renda dividida entre seus herdeiros. A última delas, segundo seus familiares, foi a de Lagoa do Boi, há uns quatro anos.

Ao se aposentar aos 65 anos de idade, Antônio Mumbaça ainda dedicou alguns anos às atividades da agricultura e pecuária. Só parou quando contraiu o Mal de Alzheimer, aos 76 anos. Mas nos seus momentos de lucidez enaltece sempre o seu amor pela família, cujos valores considera fundamentais.

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