O apelido de Vigário fez com que o Correios se atrapalhasse
e entregasse correspondências da família ao padre Chacon,
que era o vigário de Macaíba nos anos 40
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Quando o assunto é farmácia em Macaíba, é
impossível não associá-lo à figura de Chico Vigário, proprietário da extinta
Farmácia Auta de Souza. Aos 88 anos de idade, viúvo, ele encontra-se aposentado
e é evangélico da Assembleia de Deus há 33 anos.
Seu nome completo é Francisco Alexandre do
Nascimento, nascido no dia 15 de janeiro de 1924, no município de José da
Penha/RN (microrregião de Pau dos Ferros e mesorregião do Oeste Potiguar). É
filho do agricultor Antônio José do Nascimento (conhecido como Vigário) e Maria
Vicência do Nascimento (dona Neném).
O casal teve sete filhos, dos quais Chico é o mais
velho. Os demais são: Altina, Maria Emília, Apolônia, Cota, Antônio e
Alexandre. De todos, apenas Chico e Alexandre são vivos. Este último reside em
Belém/PA. No tocante ao aprendizado das primeiras letras, o entrevistado
confessa que nunca estudou. Apenas aprendeu a assinar seu nome.
APELIDO
Francisco Alexandre herdou o apelido de Chico
Vigário do seu pai, que era conhecido por Antônio Vigário. Ele contou que,
quanto ao episódio que tornou seu genitor conhecido por este cognome, foi
devido “seu” Antônio José se encontrar bastante enfermo, ainda na sua
juventude. Quando ninguém mais acreditava na sua recuperação, eis que surgiu
uma pessoa e falou: “Esse aí não vai agora, não. Ele ainda será vigário”. E
assim, após a sua recuperação, o apelido pegou em Antônio, que passou a ser
chamado de Vigário, transmitindo a designação informal para seus filhos. “A
gente ficou conhecido assim, depois disso”, disse.
O apelido, no entanto, provocou um pequeno
constrangimento ao Correios de Macaíba. Logo da chegada da família do
entrevistado na cidade, contas para pagamento, oriundas de Pau dos Ferros,
vinham endereçadas a “seu” Antônio Vigário. Mas o carteiro sempre entregava por
engano na Igreja Matriz, acreditando se tratar de Antônio de Melo Chacon (padre
Chacon), vigário de Macaíba e adjacências, do final dos anos quarenta até à
década de cinquenta.
MACAÍBA
A transferência de lugar, de José da Penha para Macaíba,
ocorreu no ano de 1942, quando a cidade era administrada pelo Major Genésio
Lopes da Silva (1941-1944). Chico Vigário tinha apenas 18 anos de idade. Seu
tio, Manoel Porfírio do Nascimento, que morava em Natal, e por se encontrar
mais estabilizado financeiramente, sugeriu que seria melhor que o irmão
Antônio, juntamente com sua família, ficassem próximos dele, pois ficaria mais
fácil de ajudá-lo.
Ele comunicou que pretendia comprar uma casa em
Macaíba para que Antônio Vigário e sua família pudessem se instalar na terra de
Augusto Severo, uma vez que não dispunham de recursos financeiros para a
aquisição do imóvel. E assim foi feito. A casa de n.º 36, da Rua Dr. Pedro
Matos (antiga Rua da Aliança), foi adquirida e passou a ser a primeira morada
da família.
- Nesse tempo, não tinha nada em Macaíba. Só tinha
um barco do velho (João) Lau. Ia de manhã e só vinha de tarde. Trazia mais
mercadoria (de Natal) – complementou o farmacêutico aposentado.
Chico Vigário desde cedo já trabalhava na
agricultura, ofício que exerceu por cerca de dez anos. Depois, mudou de
profissão, ao se tornar comerciante, no final da década de 1940. Como feirante
ambulante, negociava miudezas nas feiras de Macaíba, São Paulo do Potengi, São
Pedro do Potengi, Baixa Verde (hoje, João Câmara) e outros.
Foi nessas suas andanças comerciais que conheceu
Maria Aparecida Souza do Nascimento, no município de São Pedro. Em 1950, Chico
tinha 26 anos quando decidiu que era hora de unir os laços matrimoniais com sua
companheira e constituir uma família de cinco filhos – Carlos Roberto (Galego,
in memoriam), Evânia Margarete, Nadja Nayara, Vera Lúcia e Ana Cláudia –, onze
netos e quinze bisnetos. A união amorosa foi desfeita no dia 6 de janeiro de
2001, quando do falecimento de dona Maria Aparecida, após 51 anos de
convivência.
FARMÁCIA
Voltando à sua vida profissional, Chico Vigário,
após deixar de ser feirante, se tornou taxista por 12 anos, entre os anos de
1960 e início da década seguinte. Mas a carreira profissional que o deixaria
bastante popular na cidade foi a de farmacêutico.
No ano de 1970, abriu a Farmácia Auta de Souza,
localizada na antiga Rua João Pessoa (hoje, Rua Nair Mesquita). Adquiriu do seu
compadre Paulo Holanda Paz. O antigo proprietário do estabelecimento teria lhe
dito que, quando fosse se aposentar, venderia a farmácia para Chico Vigário
pagar quando pudesse.
A Farmácia Auta de Souza era a segunda da cidade. O
nome foi escolhido pelo próprio Chico Vigário, para homenagear a poetisa
macaibense. “Quando eu fui abrir, vi aquele colégio com o nome dela e resolvi
colocá-lo na farmácia”, revelou.
Após atender a população da cidade dia e noite por
40 anos, Chico Vigário resolveu que era hora de parar. A onda de insegurança
que atormenta a cidade há alguns anos deve ter contribuído para isso. Afinal, o
farmacêutico foi assaltado por duas ocasiões. Ao fechar a Farmácia Auta de
Souza, em 2010, alugou o prédio para uma fábrica de bolos.
Dos seus filhos, apenas Evânia Margarete quis
seguir a carreira de farmacêutico, ao abrir sua Drogaria Santa Cecília,
localizada no Mini-Shopping Gama, desde 2002.
Atualmente morando com sua filha Vera Lúcia, Chico
Vigário recebeu diversos títulos de Honra ao Mérito, anos atrás, por sua prestação
de serviços a Macaíba.
Rômulo Estânrley – repórter
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