MOSSORÓ: OS MATIZES DO VERDE
Estudante
de graduação em Direito, na UnB, li um pequeno livro escrito pelo general
Ferdinando de Carvalho – Os Sete Matizes do Vermelho (editado
em 1977, pela BIBLIEX – Biblioteca do Exército) que tinha o mesmo ritmo da
Cavalgada das Valquírias (em alemãoWalkürenritt, que é o termo popular
da Europa para o início do ato III da ópera Die Walküre (A
Valquíria) de Richard Wagner) rumo ao apocalipse ou ao próprio inferno. Em
resumo, o livro tem 166 páginas, composto de doze crônicas que “narram os
aspectos cotidianos dos comunistas, suas características, suas formas de ações,
seus pensamentos. A narração, ao mesmo tempo, se dá na primeira e terceira
pessoa” (Hessmann, 2010 - http://bit.ly/R6hbvz). As narrativas desse livro são,
segundo o autor, um misto entre ficção e realidade, compondo uma terrível
catilinária contra o perigo do comunismo, visto como uma vasta maré vermelha
que contaminava a tudo e todos. Um horror. Nem sei por que me dei ao trabalho
de ler obra tão gosmenta; estava, é verdade, na “fase abutre”, em que lia tudo
que me passasse à frente, de bula de remédio a compêndios de filosofia,
política, sociologia, história, economia política ou de literatura, em prosa e
verso. Depois, não me atrevi em ler Os Sete Matizes do Rosa (de
1978) nem tampouco o seu último livro publicada pela BIBLIEX: Lembrai-vos
de 35.
A lembrança desse
livro é mais para enfatizar esta ligeira reflexão sobre a influência das cores
na atual campanha política, mormente em Mossoró. Claro, de há muito que as
cores servem para expressar posições políticas ou religiosas. Nas guerras
antigas, seja no ocidente ou no mundo oriental, as flâmulas coloridas pautava a
organização dos exércitos nos campos de batalha, assim como as cores das
vestimentas dos soldados eram distintivos nas formações militares. Valem as
menções do sábio chinês SunTzu no seu “A arte da guerra”. Cuidemos de outra
guerra: a partir dos anos sessenta, no Rio Grande do Norte, com a conquista do
governo do Estado por Aluizio Alves, que encabeçava um movimento político
chamado “Cruzada da Esperança”, tendo como característica o uso intenso da cor
verde, que é a de um pequeno gafanhoto (Neoconocephalus triops)
conhecido, nesta parte do Brasil, como “esperança”. As facções política
comandadas pelo arquiadversário de Aluizio, o senador Dinarte Mariz,
paradoxalmente envergavam a cor vermelha, o “encarnado”. O paradoxo desta
história era a fama que Mariz tinha de anticomunista, porém, usava a mesma cor
consagrada como característica dos comunistas do mundo todo, inclusive, os
potiguares.
No auge dessa
guerra cromática, os aluizistas adotaram o papagaio (de penugem verde) e os
dinartistas a arara (de penugem predominante vermelha), ambas
aves psitaciformes da família dos psitacídeos, para autodenominação. Sob
essas cores a política potiguar viveu intensamente mais de três décadas quando,
após a terrível “mistura” que foi a tal “Paz Pública” que uniu o então
governador Tarcísio Maia e Aluizio Alves, passou a drapejar a flâmula cor de
laranja da campanha de José Agripino, eleito governador do Estado em 1982,
derrotando esse mito que foi Aluizio. Depois que “araras” passaram a ser chamados
“bicudos” e “papagaios” de “bacuraus”, ambas facções perderam a referência
cromática, embora os seguidores do aluizismo, comandados pelos primos Henrique
e Garibaldi Alves Filho, tenham levado adiante a tradição do verde.
Em Mossoró, na
atual campanha, a assessoria da candidata Larissa Rosado resolveu abandonar a
cor vermelha, que tanto marca o seu partido, o PSB, quanto à agremiação do
candidato a vice-prefeito Josivan, o PT, para usar um verde esmaecido, um
“verde-cana”, como se diz por aqui. Até hoje ninguém entendeu a razão da troca,
sobretudo, porque o vermelho com amarelo (do PSB) ou até com o branco (do PT),
garante excelente visual. Do outro lado, embora a candidata Cláudia Regina use
a cor laranja de seu padrinho, senador José Agripino, a sua campanha se vestiu,
também, de um intenso verde, o chamado agora “verde bacurau”, um verde que dói
na vista, representativo do PMDB do candidato a vice-prefeito Wellington.
Engraçado é a propriedade do verde tem sido reivindicada tanto pelos que seguem
Larissa quanto pelos que apoiam Cláudia Regina. Até acusação de que um dos
verdes “é do Paraguai” já houve... Enquanto isto, os candidatos a prefeito
Cinquentinha, Ednaldo Calixto e o Prof. Josué, sem cores qualquer, caminham,
também, no rumo do próximo sete de outubro. Para ver a cor do voto.
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