quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Chichico: um nome do futebol e do carnaval macaibense

Chichico conseguiu gravar seu 
nome na memória da cidade
Rômulo Estânrley
Repórter

“O meu forte era cabecear”. Com essas palavras, Chichico, hoje com quase 70 anos de idade, lembrou dos tempos áureos em que jogava no Cruzeiro Futebol Clube, ao lado dos grandes craques que fizeram brilhar o time azulão pisa-na-fulô. Ele também inscreveu seu nome numa das festas populares mais tradicionais da cidade: o carnaval. Mesmo não tendo nascido em solo macaibense, é uma figura que contribuiu – e muito – com a formação do espaço cultural do município.

Francisco Paulino da Silva nasceu no dia 31 de outubro de 1942, em Parazinho, no então município de Baixa Verde (hoje, João Câmara). É o primogênito do casal João Paulino da Silva e Antônia Paulino da Silva, ambos já falecidos, que ainda geraram mais cinco filhos: Francisca, Conrado, Lúcio, Cacilda e Hugo (os três primeiros in memoriam).

“Seu” João Paulino era agricultor e tinha uma pequena propriedade, na qual trabalhava junto com seu irmão Domingos Paulino Pereira, que mais tarde se tornaria prefeito da cidade, em 1963.

Em janeiro de 1943, o agricultor e sua família se transferiram para Macaíba, devido a uma “seca grande” e ao advento da Segunda Guerra Mundial, que segundo Chichico, provocou a migração de várias famílias para outras cidades, pois “muita gente se escondia com medo”.

Mas a vinda para Macaíba não foi fácil. João e Antônia percorreram 40 quilômetros a pé, de Parazinho para Baixa Verde. De filho, o casal só tinha Chichico, na época com apenas seis meses de vida. De lá, conseguiram um carro para transportá-los para Ceará-Mirim, cidade onde o recém-nascido foi batizado, para poderem finalmente se fixar em solo macaibense.

“Seu” João Paulino foi trabalhar no roçado e, pouco tempo depois, abriu um ponto de jogo de cartas, no centro da cidade, atividade que desempenhava simultaneamente ao ofício da agricultura.

Nisso, o pequeno Chichico conheceu as primeiras letras, através de aulas particulares ministradas pelas professoras dona Fefa, Alice Carneiro, Miudinha e dona Margarida, ambas de saudosa memória. Mas o menino só cursou até a 4ª série do antigo primário. Ao atingir a adolescência, com aproximadamente 15 anos, Chichico conseguiu o seu primeiro emprego. Foi como entregador de leite de “seu” Zacarias.

FUTEBOL

Paralelamente a sua atividade profissional, se tornou atleta. De 1955 a 1965, foi centro-avante do Cruzeiro Futebol Clube, jogando ao lado dos grandes ícones do clube – Vingador, Mário, Dinô, Chico Cobra, Miguel de Lima, Tasso Cordeiro e outros.

Em meados dos anos 60, Chichico foi a Santos/SP, treinar no Jabaquara Atlético Clube, que teve seu auge em 1957, quando venceu de virada o bicampeão paulista Santos Futebol Clube na Vila Belmiro. Mas o coordenador Nelson Ernesto Filpo Nunes disse ao jogador macaibense que ele estava “pesado”, mesmo com apenas 23 anos de idade. Então, por conta disso, desistiu da carreira de jogador de futebol.

Em 1961, serviu o Exército Brasileiro, no 16 RI (Regimento de Infantaria). Em abril de 1962, resolveu trilhar novos rumos em busca de oportunidade profissional em São Paulo. Deslocou-se “à toa”, num pau de arara, durante treze dias. No sudeste do país, foi trabalhar em duas sucatas de ferro velho, em ocasiões distintas, no período de 16 anos. Chichico, sempre que podia, visitava Macaíba – e ainda encontrava tempo para jogar no Cruzeiro.

Em 1970, com o falecimento de “seu” João Paulino, que havia retornado para Parazinho, Chichico teve que viajar às pressas para Macaíba. Mas, por se encontrar em São Paulo, não compareceu ao enterro do pai. “Não deu tempo, pois só recebi o telegrama cinco dias após ele ter se enterrado”, lamentou o entrevistado.

Ao morrer, “seu” João Paulino deixou um “problema sério” para seu filho mais velho: a responsabilidade pelo sustento dos seus cinco irmãos. Como solução temporária, Chichico levou consigo dois deles para trabalhar em São Paulo.

Ainda em 1970, passou a conviver maritalmente com sua amiga de infância Maria Naélia de Morais, que era viúva, mãe dos filhos Jonas Cassiano Filho e Maria Aparecida, enteados de Chichico. A união amorosa do casal gerou um filho: Sérgio Paulino da Silva, hoje com 36 anos.

Naélia de Morais negociara por dez anos com a venda de carne, antes de conviver com Chichico, que dividia seu tempo entre São Paulo e Macaíba.

No ano de 1975, Chichico se fixou em Macaíba definitivamente. E foi trabalhar no ramo da sua esposa. Passou a fazer entrega de carne com Kito Tavares, na Matança (nome dado por populares ao antigo Matadouro Municipal), de 1976 a 1997.

CARNAVAL

Socialmente, o entrevistado também foi carnavalesco. Começou no ano de 1953. O primeiro bloco que participou foi os “Ciganos da Folia”, coordenado pelo saudoso Pedro Pixilinga. Depois, brincou em “Os Calouros do Samba”.

Mas confessa que largou as manifestações populares por “desgosto”. Conta que em 1982 colocou um bloco “muito bom, bom mesmo”, chamado “Os Faladores”, para desfilar nas ruas de Macaíba. Mas o prefeito da época, Silvan Pessoa e Silva, achou que Chichico havia exagerado. “Ele disse que eu havia feito uma escola de samba para Recife ou São Paulo, menos Macaíba, devido ser caro”, mencionou.

A escola de samba ou bloco era composta por Chichico, Haroldo, Macedinho, Romeu Bezerra, Heriberto Tinôco, Evilásio, Edilson Albuquerque e outras figuras macaibenses.

Assim como no Carnaval do Rio de Janeiro, em Macaíba também havia disputa entre as escolas de samba, avaliadas por um corpo de jurados. Em 1984, Chichico foi convidado para participar do carnaval daquele ano, mas lhe “botaram para trás”. “Trouxeram um palhaço de Natal, cuja alegoria venceu. A minha era o Pax, de Augusto Severo”, recordou.

Após esses desapontamentos, Chichico foi se desvencilhando da vida carnavalesca pisa-na-fulô, participando apenas em pequenos blocos. Politicamente, sempre acompanhou Valério Mesquita, mas “só por 40 anos”, mencionou sorridente. Hoje, Chichico é aposentado, mas passa seu tempo na oficina auto-elétrica do seu enteado Jonas Cassiano.

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