quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sonho desgastado

A restauração do empório dos Guarapes é um dos meus últimos sonhos desgastados. Iniciei uma luta em seu favor e ainda espero confiante o seu desfecho. Como deputado estadual, lá pelos idos dos anos noventa, requeri através de pronunciamento e proposições o seu resgate histórico junto ao Governo do Estado. Integrando o Conselho Estadual de Cultura, solicitei o seu tombamento e fui o relator do processo dirigido à Secretaria de Educação e Cultura. Depois, passei a lutar em outro campo, contando com  o apoio do então presidente da Fundação José Augusto, jornalista Woden Madruga, para desapropriar a área. Feita a desapropriação, de imediato, ainda no governo Garibaldi Filho, a referida área foi paga ao seu proprietário. Em seguida, ocorreu o tombamento como patrimônio histórico. Paralelamente, o projeto técnico foi concluído na FJA pelo arquiteto Paulo Heider Feijó. A pergunta agora é: o que está faltando? Passado todo esse tempo, sempre cobrei da governadora Vilma Maria de Faria a necessidade imperiosa de restaurar o velho solar dos Guarapes, mas tudo em vão.

E o que está acontecendo agora? Bom, li, semana passada, que pessoas residentes na área de Guarapes, do lado de Macaíba, onde estão fincadas as ruínas do antigo empório comercial e industrial do Rio Grande do Norte, desejam mudar o nome do sítio histórico para "Nova Macaíba". A razão arguida é a de que os residentes não conseguem emprego quando afirmam que moram nos Guarapes, pois, é confundido com  o bairro dos Guarapes, do outro lado do rio pertencente a Natal e que tem má fama de gerar marginais. Permitam-me dizer, com todo o respeito, que além de ser ilegal modificar o nome de um patrimônio histórico ou sua área adjacente, é uma agressão ao passado cultural, político e administrativo de Macaíba. Ali, Fabrício Gomes Pedroza, fundador do Guarapes, emancipou o município, no dia 27 de outro de 1877, elevando-o à categoria de cidade com o nome de Macaíba, pois, antes se chamava Vila de Coité. A ideia desmoraliza a história do município por causa de um motivo subjetivo e inconsequente. Inclusive, a região dos Guarapes não pode ser apelidada de "Nova Macaíba" porque ali já é o velho, o antigo, o histórico e existe desde o século dezenove.

O empório dos Guarapes, ao lado do Solar do Ferreiro Torto, e o monumento dos Mártires de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, bem próximo dali, constituem a trilogia histórica e turística da colonização portuguesa na Grande Natal, enfocando os aspectos religiosos e econômicos. Não tenho nenhuma dúvida da atração turística que representará no futuro, de forma interativa com o Ferreiro Torto e Uruaçu.

Mas, a expectativa de contemplar a manhã radiosa de todo aquele burburinho e agitação, subindo e descendo a colina chantada na estrada velha Natal/Macaíba - o nosso morro dos ventos uivantes - sem aviso prévio, feneceu. Tudo começou a se frustrar quando caiu François Silvestre, da Serra do Martins, e entrou Crispiniano, o gajeiro curió, da planície de Mossoró. A mim, pessoalmente, chefes do Executivo comprometeram-se em várias estações do tempo. Cheguei, inclusive, ao ponto - em atitude desesperada da persuasão - de revelar-lhes a visão hipotética de inúmeras legiões comandadas por Fabrício Pedroza com o fito de incomodar o sono de todos eles.

Pondero aos atuais gestores que prometeram resgatá-lo, que encontrem a saída de evitar que se modifique o que é histórico. Cobririam de vergonha a cidade de Macaíba e assombrariam o Rio Grande do Norte com tamanha insensatez. Viva os Guarapes, restaurado e redivivo!!!

Artigo do escritor Valério Mesquita

Nenhum comentário:

Postar um comentário